“O mestrado desenvolve um instinto, um ‘faro’ epidemiológico”

Pedro Laires
Pedro Laires é licenciado em Biologia e foi aluno da 2ª Edição do Mestrado em Epidemiologia. Apresentou em Junho de 2011 a tese “Artrite Reumatoide e Diabetes Mellitus Tipo 2”. Atualmente trabalha na área de Outcomes Research, numa empresa da indústria farmacêutica onde valoriza as competências técnicas e o espírito crítico que o Mestrado em Epidemiologia lhe proporcionou.

 

Fale-nos um pouco do seu percurso profissional.

A minha formação de base é a Biologia com especialização em Genética. Cheguei a trabalhar em investigação fundamental, de bancada de laboratório, e depois acabei por enveredar numa carreira na indústria farmacêutica, primeiro no departamento médico e mais tarde na área de Outcomes Research, uma área que acaba por beber muito dos conceitos de epidemiologia.

 

E foi nessa sequência que decidiu fazer o Mestrado?

Sim. Foi quando transitei para a indústria farmacêutica que fiquei mais familiarizado com os estudos de natureza epidemiológica, nomeadamente estudos observacionais sobre a efetividade dos medicamentos. Como comecei a ficar também com responsabilidades na conceptualização destes estudos e na sua própria implementação, comecei a ter maior interesse na área de epidemiologia e depois foi uma transição natural em termos de escolha de mestrado. Comecei a perceber que a minha carreira iria afunilar no sentido de lidar com matérias de natureza epidemiologica e foi essa a principal razão que fez com que eu quisesse fazer este mestrado.

 

Como foi conciliar a sua vida pessoal e profissional com o mestrado?

Não tive dificuldade porque fiquei muito motivado, e, como se diz, “quem corre por gosto não cansa”. Mesmo que tivesse de trabalhar e estudar à noite, para mim não me custava porque eu estava muito entusiasmado e muito estimulado para fazê-lo. Nesse sentido não fiz qualquer sacrifício.

 

Que papel teve o Mestrado na sua vida profissional?

Foi excelente pois antes de entrar para o mestrado estava a antever que a minha carreira ia passar muito por esta área e fazer o mestrado foi claramente o passo correto. Não só porque me deu a formação que eu precisava para assumir as responsabilidades que vim a ter, dando-me a capacidade técnica e a abertura mental para poder abarcar essas responsabilidades, como também pelo própria valorização do meu currículo. O facto de ter o Mestrado em Epidemiologia tornou-me muito mais apetecível para o mercado, muito mais interessante para as funções que vim a desempenhar.

 

Baseando-se na sua experiência posterior, há alguma outra competência que achou que podia ter sido desenvolvida no Mestrado?

Os temas centrais da epidemiologia foram abordados, mas eventualmente algumas matérias satélites, como Outcomes Research  ou a avaliação económica em saúde, ou até mesmo alguns módulos mais avançados de estatística aplicada à epidemiologia.

 

Quais acha que são os pontos mais fortes do Mestrado?

O mestrado desenvolve um instinto, um “faro” epidemiológico e desperta a mente para a temática. Promove um espirito de análise crítica e um olhar epidemiológico sobre o mundo e sobre as matérias que nos rodeiam, relacionadas com a epidemiologia. Para mim foi o ponto mais forte, esse apurar do instinto epidemiológico. É difícil de definir, mas senti que fiquei muito diferente na forma como olhava para o mundo em geral, e em particular para as matérias com que trabalho diariamente.

 

E quais são os pontos que devem ser melhorados?

Sinto que algumas matérias poderiam ser trabalhadas de forma diferente e algumas das aulas tinham contornos muito próximos aos de um seminário. Foi bom ter aulas com convidados e é importante ter-se contacto com as pessoas que mais trabalham em epidemiologia e mais experiencia têm, mas em algumas vezes senti que faltava haver uma história mais estruturada.

 

Que conselhos dá a quem é agora aluno do Mestrado?

Se estão no meio da parte curricular acho que é útil começarem a ter contacto com potenciais orientadores e projetos para tese, pois é tempo que poupam mais tarde. Também aconselho a leitura de livros complementares de epidemiologia, por auto-iniciativa, de editoriais de revistas de epidemiologia, ou a consulta dos programas de congressos de epidemiologia. Assim percebem as áreas que estão em crescimento e carecem de mais investigação, isso poderá ser util para a escolha da matéria que irão abordar.

 

E que conselhos dá a quem está a pensar inscrever-se no Mestrado?

Primeiro acho que as pessoas têm de saber para o que vão, ou seja, perceber o que é a epidemiologia e ter gosto pela matéria. É importante fazer um processo de auto-análise para perceber se é mesmo aquilo que se quer e fazer pesquisa para melhor compreender do que é que estamos a falar. Segundo, se possível, falar com pessoas, com as que já trabalham em epidemiologia e com aquelas que fizeram este mestrado.

É importante os alunos estarem informados. Se uma pessoa tomar, como eu julgo que tomei na altura, a decisão correta em fazer um mestrado que faz todo o sentido na nossa vidae na nossa carreira, então as coisas “doem” muito menos, são muito mais aprazíveis.